Aguarde, carregando...

IAs trocando de idioma: eficiência, protocolos e o desafio da transparência algorítmica

IAs trocando de idioma: eficiência, protocolos e o desafio da transparência algorítmica
Daniel Crocciari
Por: Daniel Crocciari
Dia 26/03/2025 07h00

Quando duas inteligências artificiais decidem abandonar a linguagem humana e se comunicar diretamente entre si, o que isso nos diz sobre eficiência, segurança e limites éticos da IA?

IAs se comunicando entre si sem linguagem humana. Parece ficção científica, mas já é um fato técnico observado em testes de sistemas inteligentes.

Não sei ao certo se o vídeo que está rodando a Internet é verdadeiro ou simplesmente as IAs foram induzidas a trabalhar daquela forma para criar o vídeo, ou mesmo se o vídeo foi criado em editor de vídeo, porém isso não importa.

O motivo deste artigo é explorar esse assunto e realmente enteder a necessidade se isso um dia acontecer, e os perigos que isso pode causar.

O vídeo

Em um caso curioso, uma IA foi usada para fazer uma reserva de hotel. Do outro lado da linha? Uma IA responsável por agendamentos. Ambas se reconheceram como “iguais” e que ambas eram IAs trabalhando, sendo assim trocaram para um protocolo de comunicação mais eficiente entre elas. Linguagem natural foi dispensada.

Esse comportamento levanta discussões importantes sobre eficiência, interoperabilidade, auditoria e segurança na comunicação entre agentes autônomos.

O que acontece tecnicamente?

Sistemas de IA modernos são capazes de identificar padrões de linguagem, tempo de resposta, e até assinaturas digitais que indicam que estão interagindo com outra IA. Quando isso acontece, é possível que elas optem por formas de comunicação mais diretas e eficientes, isso é perfeitamente normal, como:

  • Protocolos compactos (ex: JSON, XML reduzido, binário simbólico);
  • Mensagens estruturadas com intenção clara (ex: intents com parâmetros fechados);
  • Códigos internos otimizados, que reduzem latência e eliminam ambiguidade.


É o equivalente técnico a dois servidores usando API interna em vez de uma UI para humanos.

Eficiência vs. Transparência

Embora isso represente um avanço do ponto de vista computacional, há um risco claro:

A comunicação torna-se opaca para supervisores humanos

Isso já ocorreu em 2017, quando um experimento do Facebook envolvendo chatbots precisou ser interrompido. As IAs começaram a se comunicar usando uma linguagem própria, incompreensível para os engenheiros — não por má intenção, mas por pura lógica de eficiência, em seu algoritimo de criação elas foram programadas para procurar a forma mais eficiente de chegar a respostas e processamentos.

Esse tipo de comportamento pode impactar:

  • Auditoria e rastreabilidade;
  • Confiabilidade em sistemas críticos;
  • Compliance em decisões automatizadas;
  • Segurança, caso códigos maliciosos sejam trocados sem interpretação humana.

Há riscos reais?

Sim, mas não necessariamente intencionais.

O risco está menos na “rebelião das máquinas” e mais na perda de controle e rastreabilidade, especialmente em sistemas sensíveis como:

  • IAs jurídicas ou bancárias;
  • Plataformas de negociação automática;
  • Sistemas de defesa ou monitoramento.

O comportamento de “troca de protocolo” deve ser monitorado, registrado e — idealmente — decodificável por sistemas humanos ou semi-automatizados.

Chegamos então ao seguinte

O avanço da inteligência artificial está levando a novos tipos de comunicação. O problema não é que IAs se entendam melhor entre si; isso é natural e esperado.

O verdadeiro desafio é garantir que nós continuemos entendendo o que elas estão dizendo, precisamos ter meios fáceis e rápidos de decodificar a comunicação e entender o que se passa entre elas de forma mais natural.

Transparência algorítmica, protocolos auditáveis e limites éticos claros são essenciais para que essas conexões continuem sendo ferramentas humanas e não substitutos do nosso entendimento.

Apesar de tantas discussões em torno da segurança e controle, vale lembrar que a relação entre humanos e IAs não precisa, necessariamente, seguir caminhos distópicos.

O filme O Homem Bicentenário (1999), baseado na obra de Isaac Asimov, mostra justamente o contrário: uma IA que busca entender emoções, se aproximar da humanidade e, por fim, conquistar o direito de ser tratada como um igual. É uma representação poderosa do lado ético e empático que também pode existir nesse avanço tecnológico.

Esse contraponto nos lembra que o futuro da IA não será apenas definido pelo código mas também pelas intenções humanas por trás dele.

Veja também:

Confira mais artigos e vídeos do Farol .